Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa por Anita de Castro
Mesmo que nada diga.
Basta saber de ti para encontrar as palavras.
Nas metaforas que á muito me enfeitiçaram.
Que ainda hoje continuo a derramar
A maré cheira dos meus olhos
Sobre o retrato tirado num momento feliz
Mesmo que nada diga!
Guardo em mim um olhar ,um toque.
Um toque de dedos finos.
Que me encheram as mãos de palavras
Não esqueci !
Mas guardo o grito do teu silêncio
Que me é trazido pelo vento
Não esqueças !!
Talvêz amanhã volte
Nas palavras que farão teu livro, teu romance.
Faz de mim a personagem
Que eu deveria ter sido
Escolhe na suavidade das lêtras
Cada som do teu silêncio
Na escrita cobre minha alma
Cobre com sêdas bélas e simples do oriente
Afogando cada cêntimetro de mim
Não digas nada !
Apenas escreve -me
Nas palavras que te ditei
Porque nélas fui feliz
Anita de Castro